𝑆𝑜𝑢 𝑛𝑜𝑟𝑑𝑒𝑠𝑡𝑖𝑛𝑜 𝑐𝑜𝑚 𝑚𝑢𝑖𝑡𝑜 𝑜𝑟𝑔𝑢𝑙ℎ𝑜

Eu sou do Brasil,

Brasileiro por convicção

Mas a minha nação,

Seu moço, é o Nordeste,

Meu sotaque é agreste,

Meu fenótipo é diferente,

Mas a minha raça é de gente

E, se por qualquer sorte,

Disserem que sou do Norte,

Vai uma dica somente:

Não me ofende nem diminui

A minha origem nordestina,

Mas, se a escola não ensina,

Não custa aprender sozinho

Que, apesar de vizinho,

O Norte não fica no Nordeste

Nem o Sul no Sudeste.

Outro gravíssimo engano:

Nem todo nordestino é baiano,

Mas todos são cabras da peste.

Lá, de onde eu venho,

O berço é uma rede

E pra não se morrer de sede,

Precisa furar o próprio poço,

Por isto, seu moço,

Esse meu jeito desajeitado

É apenas o resultado

De quem vive pra trabalhar,

Sem tempo pra se alinhar

Ou lamentar seus pecados.

Mas nenhuma região,

Por esse mundão a fora

Tem a nossa história

E a diversidade cultural

Que é única e natural

Deste povo nordestino,

Que desde menino

Aprende que, para viver,

Precisa primeiro aprender

A vencer as adversidades

Que em nenhuma faculdade

Seria possível aprender.

Nossas praias são belas

A nossa música é melhor,

Somos os donos do forró

E do axé na Bahia,

Do repente e da cantoria,

Do frevo pernambucano

Do xote e, se não me engano,

Até do reggae brasileiro,

Da cantoria de violeiro,

E do único estilo brasiliano

De literatura verdadeira,

A nossa literatura de cordel,

A única, sob este Céu,

Capaz de, na simplicidade,

Expressar a autenticidade

Em livretos, poemas e canção,

Do povo de uma região

E dela fazer nação de verdade.

Fora isto, seu moço,

Se ai no Sul, dessa gente,

Eu me pareço tão diferente,

Também lá naquelas paradas

Onde estão plantadas

Minhas raízes nordestinas

Se essa gente tão grã-fina

Aparecer por lá de repente

Também será diferente,

Mas isto não lhes tira a sina.