Nem pra morrer o tempo presta...
Quando nas quebradas do sertão
o vento avisa com um redemoinho,
prepare a alma pr´um tempo de seca...
Prepare a boca pra rezar um terço,
prepare os pés pra cobrir de léguas,
guarde nos olhos sua água pouca...
Quando passar o cavalo-do-cão,
se benza três vezes.
Se ele passar de novo, mais três.
Se ele tornar a passar,
nem olhe pra trás, vá se embora,
corra que nem um estropício.
O gavião peneira sobre o baixio
de olho arregalado no rachão da terra,
esperando um bicho se bulir do canto...
É quentura, irmão das almas...
Nem pra morrer o tempo presta...
Se o sino tocar na secura do dia,
o mundo todo vai saber...
Nem pra morrer o tempo presta...
Nem pra viver a fruta nasce,
quanto mais chão pra se enterrar semente...
Cova de defunto magro não nasce flor.
Nascer do que?
O choro que ele tinha, não tinha mais.
Já tinha até esquecido como se cuspia.
Não urinava, não suava, nem sorria.
Não toque o sino, irmão das almas...
Não toque o sino...
O sertão fica triste quando o sino toca.
Nem pra morrer o tempo presta...