Meia verdade

Eu posso dizer que é amor poético,

Apenas arte, sem outra finalidade;

Admiração ordenada de modo prático,

Coração alheio observa assim, apático,

Ou, se preferires, posso falar a verdade.

Dizer que meu afeto é um fruto cristão,

Que amar ao próximo é uma lei, e tal;

Que no fundo te vejo sendo teu irmão,

Anelo ser mero conselheiro e proteção,

Ou então, preferes que te dê a real?

Convidar-te para orar em minha casa,

Estreitando com Deus um compromisso;

nem penso, sequer, avivar tuas brasas,

afinal, sou um anjo com ocultas asas,

ou, inquirido, posso dar todo serviço...

Na verdade te quero de sangue quente,

uma mulher faminta na minha esteira;

que descubra do prazer a vertente,

que grite, gema, desnude o que sente,

meia verdade seria mentira inteira...