LUA CHEIA NA SENZALA
Descendo a ladeira,
a crioula deixou o terreiro,
sem nada dizer, foi dançar.
A mesma dança, um samba,
mas dançou maxixe, coco,
sapateado e gafieira.
Alguns atabaques, sobre a esteira,
marcavam o ritmo e os pontos,
ao longe, as notas ecoavam.
Era "A dança do crioulo doido" (magia),
no transe, na gira, no peito ferido,
em busca dos brocados, rodopiava.
No rego da rua, evocou Yemanjá,
o suor escorria no couro liso,
atiçando a alma para uma nova dança.
Havia um gozo, uma histeria,
do rego da crioula, descia o orgasmo,
procurando algum crioulo na ladeira.
Pedro Matos