AMIGOS ENTRE SI
Cultivo um olhar
fúnebre
sobre ruas e avenidas.
Nos botecos das esquinas,
os risos escorrem
nas sarjetas;
alguma vadia provocou,
porque cortou o leite do menino.
Enquanto isso, um miserável
chora!
Talvez tenha visto a própria
mãe numa dessas esquinas.
Hoje, ele não chora com fome.
Ela haverá de espernear
trancada numa chave-de-braço.
As portas não precisam de trincos
nem fechaduras,
porque para ser uma vadia,
por onde um gato passa,
ela também pula.
O que ela espera
é que sua máscara a esconda
do rosto do filho,
aquele cliente obscuro,
louco para ver por onde veio
ao mundo,
o mundo por onde tantos passam,
e ele passou apenas uma vez.
Mas se o trato valer a pena,
talvez ela não exite em matar
as duas fomes:
a fome de alimento, e a fome
que lhe faz morrer aos poucos,
o amor...
esse amor que ela sabe falar,
mas não consegue escrever nem sentir.
...
Pedro Matos