AMIGOS ENTRE SI

Cultivo um olhar

fúnebre

sobre ruas e avenidas.

Nos botecos das esquinas,

os risos escorrem

nas sarjetas;

alguma vadia provocou,

porque cortou o leite do menino.

Enquanto isso, um miserável

chora!

Talvez tenha visto a própria

mãe numa dessas esquinas.

Hoje, ele não chora com fome.

Ela haverá de espernear

trancada numa chave-de-braço.

As portas não precisam de trincos

nem fechaduras,

porque para ser uma vadia,

por onde um gato passa,

ela também pula.

O que ela espera

é que sua máscara a esconda

do rosto do filho,

aquele cliente obscuro,

louco para ver por onde veio

ao mundo,

o mundo por onde tantos passam,

e ele passou apenas uma vez.

Mas se o trato valer a pena,

talvez ela não exite em matar

as duas fomes:

a fome de alimento, e a fome

que lhe faz morrer aos poucos,

o amor...

esse amor que ela sabe falar,

mas não consegue escrever nem sentir.

...

Pedro Matos

Pedro Simao Rocha Matos
Enviado por Pedro Simao Rocha Matos em 04/10/2015
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