Força da Carne.

Carne,que bicho és tu para teres sujeito

Em circulo de vilezas meio mundo

E contudo eu me comovo e me sujeito

De imoralidades complacente prazenteiro.

Como se mau pudera dominar a ânsia

Amor que a morte transfigura em vida

E necessário fosse o jogo da inconstância

Que judia a alma baixa e presumida.

A quão altos afetos tens por servos

E tão varia volupia por consorte

Na incerteza fatal de nossos nervos

Para matares a vida com tal morte!

Assim na sucessão de teus manjares

Famintos manténs solteiros e casados

Ris do esquivo em lúbricos altares

E treda moves libertinos e enamorados.

De aparências nutris a fantasia

E de mil ciências a gula açulas

Desatinas com ardores e ironia

E desgravitas a liberdade mais nua.

Em teu livro aromático e descomposto

Ensinas a ordinária tua lei ardente

Que vos convertam doutos em alto gsto

E vos uma ao amor a sábia gente.

Para da força crua gratos esplendores

Extrair dos teus corcéis arrebatados

Mas se não o permitem lavas e despudores

Ao menos tens os rios extasiados,

Tu que o encontro breve unes e separas

Que o louco sujeitas,e ao fogo acrescentas

Razões contrarias por vezes as mais claras

Paixão sensual de perdições eleitas.

E que do topo ao pego arrastais a alma

Que falenas tremendas e quão extensas chamas

Filha do coração e do abismo, oposta acalma,

Mal dos séculos;bem soberano de quem ama.