Os Jardins da Carne

Os jardins da carne me entristecem

Quando penso nas volúpias impossíveis

Nos longos amores veneráveis

Nos desejos tão simples e terríveis;

A Carne amante é meu tormento lamentável

Pois estou só no pranto intraduzível,

E a orgia do mundo nunca cessa

De me evocar com sua risonha promessa.

Pelos prados transbordante de ventura

Amanhece a canção dada ao vento

Da poesia a sublevar o sentimento

Invade meu peito de lírica doçura;

O homem pode quanto queira,se se arremessa

A beleza da esfera com coragem,

Morde-o o vórtice tremendo da voragem

Em meio ao gozo de tanta promessa.

Ma s que dor temível se endereça

Duro ódio a naufragar meu peito,

Sinto o zoar do rancor contrafeito

Que diabo atroz tão perverso o tece.

Baba a inveja sobre o ovo dos amores

Pervertendo o mel da ampla taça

E banhado de cinismo e de pirraça

Aniquila o templário e a prece.

Seja-nos dado viver na real utopia

Do pluriamor nos seus vagidos excelentes

Pressinto o afago de bondade e de brandura

No enleio sensual da fantasia.

Quanto possa tente o homem,eis a verdade,

Erga seu castelo ao leu da bela

Que nos importa se é treda e se é cadela

Se nos libera o albergue da enormidade?

Não é o correto viver-se a esplendida existência

Dada por Deus a compor a vasta esfera?

O amor resplandesce a todos os filhos da terra

Porque odiar-lhe o direito com veemencia?

A quilometragem não Oe para nós todos

O mesmo balsamo a ungir o firmamento?

Une o universo num mesmo pensamento

Ditoso o prazer em refulgentes modos!

Que os inditosos nãos nada roubem da ousadia

Arrebate o coração a venturosa ternura

O momento reverdece de luz pura

O encontro alberga inteira a alegria!

Oh timidez! Rompo as amaras de meu imo

Abraçar as Venus ditosas da poesia

Duplo conluio de dulçor e de magia

Para a satisfação de meu intimo destino.

Gema embora do ódio toda a ferocidade

Com sequazes de horrífico poder,

Quero amar na vida até morrer

Do afeto toda a sagaz loquacidade.

Improperios brade o rancor dissoluto

Quero viver com toda a enormidade

Sem ironia qualquer toda a verdade

Do amor o verbo liberal e astuto.