Inventário de um gaúcho

Vida longa ,filhos e patroa,

guaipeca, trago de canha boa.

Tudo tive e nada levo,

sou taura e não me entrego!

Deixo raça e sangue puro, da família eu me orgulho,

escrito aqui está.

A estância fica pros dois.

Da trempe ao carro de bois,

lá das bandas do Igaí.

Uma gaita de oito baixo, o lenço vermelho

e a guaiaca, acham que não compensa,

Pois está surrada das lidas.

Pra minha filha querida que também é bem querer,

o que restou desta vida foi a máquina de escrever,

o livro - “Queres ler” - eu deixo pro meu piá,

pra aprender tudo da vida!

De tudo que utilizei e por isto me apeguei

não quero que se desfaçam:

Da caneta esferográfica e o anzol de estimação, o de pescar lá na sanga,

O carrinho de pedreiro e a enxada duas caras,

O par de foices antigas que não fugia da guerra,

do nosso pedaço de terra, o carro de bois e das cangas.

Espero que não se zanguem com o toco de lápis guardado,

dos bilhetes rabiscados pra minha china querida.

O que levo desta querência é o cheiro do meu café e deixo pra quem quiser:

um apontador de gillete e o meu velho ofertório.

Só espero que dê tempo pra levantamento em cartório!!!!!!!!!!

Sebastião Bronze
Enviado por Sebastião Bronze em 22/10/2009
Código do texto: T1881339