XIV
'o espírito de vespa
às formigas famintas’,
assim fui sentenciado,
a morte de minha fome
pela fome de outros
o fim do meu espírito
pela carcaça alheia
nua e faminta de espírito.
servir-me-ão nu de flamas
e crepitações,
aos carrascos um equivalente,
e dirão a todos que ameaço-lhes
a fazenda e a polícia,
que corto-lhes os nós que
sustentam a casa,
que torno-lhes o convívio
com o universo impossível
à guisa das torneiras
no interior das nuvens.
servir-me-ão em uma bacia
de barro,
destituído de dignidades e azaléias,
acompanhado de uma corcunda
infiel e de um único
e leal tamarindo,
para que eu possa na derradeira hora
saber a verdade de estar-se ali,
úmido manjar ao estômago de sociedade destinado,
que
fui uma trapaça aos trapaceiros,
que roubei meu próprio ouro
ao ladrão manco
que me escapava
pela cortina do quarto,
que restituí ao mundo o que
ao mundo era devido
e que fui bom e manso
para com todos,
quando por lei era-me imposto
um maligno comportamento,
para fazer claro
com a clareza fugaz
de uma anchova prateada
brigando contra a carne negra da noite
que eu estava certo,
e que fui vencido.