XIII

há muito que ver-te não.

ver-te e isto antes me bastava,

com meus olhos escuros ver-te,

na figura de uma bétula andante,

ou no ofício de chave e luz

para as portas do seio fechado

há muito que ver-te não.

mesmo com os óculos de um sonho,

distante que estás de meu caminho

de buscar um caminho,

envolvendo-me com sexo

esquizofrênico das papoulas.

o que descobriste,

em teu perseguir o concreto,

no curso estranho dos anos

e das pestes,

não mais me interessa, amor

o tempo, passando denso,

deformou-te tanto a silhueta

que tenho medo de um regresso

quiçá fez-te pior o muro

que a brisa

és-me hoje o cadáver

de uma princesa bonita

e eu, um ir-se embora,

sou-te uma espádua intranqüila,

sempre.

os dois bifurcamo-nos.

foi-nos o destino uma língua furiosa de cobra,

e o tempo um oceano espesso de baba e veneno.