Acesso restrito
Junho é o mês de lembranças,
De romances que já vivi,
Quadrilha, quentão e danças,
Dos amores que conheci.
Do beijo roubado da moça,
Da fuga para o escuro,
Bom lembrar, sem nada a força,
Somente amar, assim eu juro.
Lembro-me do arraiá animado,
Dos abraços que ganhei dela,
Do casamento improvisado,
Da minha noiva a mais bela.
Para que ninguém percebesse,
Voltávamos a dançar no salão,
Pescar um momento como este,
O melhor lance do leilão.
A gente achava sempre um cantinho,
E a noite nos recebia,
Buscando prazer e carinho,
Suspirava e se rendia.
Na boca, toda saliva sugada,
Feito um beija-flor valente,
Que subtraiu da amada,
Uma carícia tão quente.
Guardo lembranças marcantes,
De minhas festas juninas,
Do teu olhar radiante,
Da canção e das meninas.
Hoje, às vezes me pego sonhando,
Acordo, alimentando o desejo,
E a saudade vai me levando,
A encontrar meu doce beijo.
Pois jamais tive um sinal,
De tão perto, ou mais distante,
Sem endereço e caixa postal,
Sem ela sou um mutante.
A solidão quer me tocar,
Vencer-me, deixar na lona,
Mas guardei-te e vou lembrar,
Do arraiá e da sanfona.
São coisas boas do passado,
Que até hoje traz alegria,
Namorar, ser censurado,
Depois cair na folia.
A justiça não vai vetar,
São tradições, acredito,
Mas enquanto ela não voltar,
O acesso aqui está restrito.