Desoluto de paixão

Um dia quis disfarçar minha paixão. Sai e simplesmente decidi que não iria mais me entristecer com nada, afinal, não nasci para carregar as dores do mundo, nem para mudá-lo, embora eu acredite que sim, tenho lá minhas desconfianças.

Não consegui, me revelei um fracasso diante daquilo, minha paixão se mostrou quando chorei por ter perdido pra mim mesmo uma batalha que travei no peito. Eu tinha que me preocupar, alguém tem que se preocupar, não sei por qual motivo, não falaria destino por que nele não acredito, eu nasci assim, e de tal forma isso se coloca que não consigo me livrar.

Essas músicas que ao longe tocam, que sequer posso distingüir, mesmo elas ainda tocam fundo, vão até a alma, e por vezes se perdem e ficam por lá. Dia desses eu andava e de repente uma delas me veio, e claro trazia consigo a lembrança de um momento (eis o paradóxo das músicas: lembrar momentos que ou alegram ou definham) tal foi a decepção, que meu dia se perdeu, e pior nunca mais o encontrei, lógico, ele se perdeu no tempo que não volta mais. Ó dia que não esqueço, cada vez que o lembro me torno mais morto. Assim que vou morrendo eternamente, e esse processo durará para o além-caixão que me aguarda.

Tantos são os risos que solto quando vejo as ditas cartas. Quão estranhas eram as cartas que eu escrevia, hoje vejo que era um amor, que de sempre se revelou impossível, mas junto com isso me pergunto: que graça teria eu começar um amor que sabia ter fim? Ora, nisso consiste a força e a ilusão que o amor trás: parece não ter fim. Isso o torna superior aos demais sentimentos, pois ele faz com que esqueçamos que o tempo passa. Dói, porém, o sentimento de quando ele vai, quanto ao tempo?... bem os dias ficam muito mais longos, mas apenas os dias, pois as noites, quando podemos olhar para o céu e pensar mais, esta passa rápido, posto que trás lembranças do amor, e tornam aquele momento também permeado de sentimento.

Isso foi o que hoje me saiu, palavras não sei de onde que apenas dizem aquilo que profundamente acredito, embora as vezes me perca em pensamentos nada produtivos e que apenas me desenobressem.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração. (Fernando Pessoa)

Cássio Morais
Enviado por Cássio Morais em 15/06/2008
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