Infância II

Sob a leitura de um Pobre Corinthiano Careca.

Meu pai entornava uns tragos, foi embora.

Minha mãe trabalhava de secretária. E eu com vergonha.

Irmão, eu não tinha.

“Deus sabe o que faz”, acredito.

Sozinho, menino, andando na 9 de Julho,

via a história de Joana (“uma menina,

mais ou menos, da minha idade

Ia de carro em carro entregando um bilhetinho”)

comprida história que talvez não acabe mais.

No meio-dia branco de luz uma voz

tentava me animar, era minha imaginação

dando-me tudo o que a vida não quer.

Sonho lindo que nem a Camila

Sonho gostoso

Sonho bom.

Depois do expediente, é claro, minha mãe ficava sentada

costurando

(uma metáfora para quem tinha que preparar uma redação)

Ela não reclamava,

Ao contrário de mim.

Lá longe meu pai talvez medicava, tratava

dos dentes de possíveis pacientes de muita renda.

E eu aqui, invejando a vida de Charles Augusto

(que até nome de príncipe já tinha).

Dizendo tudo isso sem saber

que a minha história

era mais bonita que a de Joana.

jeferson bandeira
Enviado por jeferson bandeira em 07/07/2008
Código do texto: T1068622
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