INFERNO
“Deixai toda esperança, ó vós que entrais”!
Dante
Inferno, Canto III, 9.
Cratera cônica que para baixo se estreita
Bocarra de disposições malignas
Onde transidas; ardem as danadas...
Dite imponente tem as portas guardadas.
Aqueronte em fúria sacode a barca,
É Caronte – o desgrenhada barba, quem faz a travessia
Dos que pendem pelo hostil e tenebroso rio...
Íngremes abismos por demônios estão infestados.
Cérbero, o diabo trifauce,
Estrassalha os míseros amargurados;
Olhos inertes – fitam o nada...
No degrau abaixo, o tinhoso impede a entrada.
Em cavas os heréticos são mutilados
Exalações nauseabundas emergem do abismo
Ugolino rói a cabeça decepada...
A chuva sobre os gulosos cai putrefacta.
Não se vê luz em meio às trevas
Corpos em espantosas chagas
Jazem nus; ardendo feito brasas...
Legiões de capetas lhes cortam com espadas;
Blasfemam os descarados,
Graffiacane impiedoso;
Sempre de língua estirada,
Lança-lhes nas Malditas Valas.
No abismo pavoroso – açoites e azorragues,
A cabeça serve de apoio
E os pés; vermelho-escarlates,
Agitam-se pelos ares.
Mergulhados em negro lago fervente
Barateiros por demônios guardados;
Espíritos imundos e atrevidos
Sorriem quando afundam o bando infindo.
Thiago Matheus – POA, Setembro de 2006