QUIMERAS
Quisera eu ter a sabedoria do matuto
e não uma consciência forjada
ter nas mãos as marcas da enxada
na lembrança os tantos tombos na estrada
e levar n'alma os calos do sentimento bruto!
Que o saber não fosse um bem tão disputado
que sábio fosse aquele por quem a vida floresce
que das mãos caridosas faz brotar uma prece
que pelo amor do passado inda a alma padece
E que sobre a terra derrama suor e cuidado!
Que o homem não quisesse do outro usurpar
que só me bastasse o que de meu eu tivesse
que só me valesse o que a natureza me desse
que dela eu cuidasse e em troca eu pudesse
apenas banhar-me de Sol e Luar.
Que nua eu andasse, sem medos ou visgos
que o corpo não fosse mais que a morada
da alma liberta do que fora embotada
por medos, preceitos, conceitos, por nada
que valha as dores de uma vida sem viço.
Que o verde do campo fosse meu leito
e o céu estampado de belas estrelas
me fosse um presente...e eu pudesse tê-las
não em prisão qual um pássaro em gaiola
mas em minha mão...qual um sonho de outrora!
Que do seu lume incandescente, eu ganhasse
uma chispa que fosse pro mundo alumiar
que de minhas mãos uma tocha brotasse
que de luz estelar um caminho eu criasse
onde em paz os homens pudessem trilhar.
Ah, quem dera meus versos tudo pudessem!
Ah! Quimeras...quimeras de um poetar!