Tempestade
Lava e escoa o grosso do pó de tantos dias,
esfrega e descasca a camada de hipocrisia,
leva esgoto adentro todo mal e todo fel,
tira do ar os murmúrios de corações
embrutecidos,
quebra os acordes dissonantes,
as verdades estafantes,
as veredas de concreto desgastantes.
Retira todo o lixo fétido,
toda poça imprestável,
toda muda insana.
Corta os reis de paus e pedras,
destrói os ases de um vintém,
descobre os ritos torpes e arranca
os tesouros de vidro opaco escondidos
em sabe quais arranha-céus.
Banha com teu sabor suave a
imensa cidade grande,
esfrega o macio odor do verde mar,
sopra levemente o tênue calor dos tons florais,
amansa o calmo entardecer fortebeleza,
respingando em gotas de anil brilhantes
incontáveis pliques na cúpula infinita e
agora calma e branda do véu escuro e
límpido.
Acima do teu ar e por entre o céu que cai,
novas notas, outras rimas,
sabor de música,
sentimentos,
poesia.