Lenda

Ouvi, em paredes de meu quarto seguro... Um dizer que mal vejo.
Em despertar de um recuo... No ponto exato que emerge, o grito.

A poesia é o que me torna alvo... Em foco do que me abstenho.
Nas veias que cortam meu corpo... Na trêmula esguia vida.

Ah! Quanta fonte que beber é matilha... Constelação seja o guia.
Há tantas paredes quebradas... Tantas visões naufragadas!

Eu fico a deslumbrar-me... Encantar-me... Sufocar-me...
Que aparente dia em clara sintonia.

Vens em montanhas... Flores... Na grade, sedução em trama...
Na ética de Foucault... "Conduzir-se"... Chave do tamanho de Alice.

Nem nas relvas que a alma desliza... Tampouco nos moinhos errantes...
Encontras algo mais  límpido, que a imagem do rosto sorrindo.

Na lenda que me condiciono, em ritos e mitos que exponho...
Tens, na vista que rodeio o teu rosto... Os olhos que lançam a voz eu ouço.

Disseram-me um dia, talvez... Que o mundo corresponde aos fatos...
Um todo que movimenta pedaços... Que se espalha e se contrapõe...

Será?... O fato que atribuo ao presente... Em jogo que as delícias indicam...
Movimento do corpo em chamas... Ninho da Fênix que emana o perfume.

O olhar da Medusa que empedra... Vira canto da sereia, nas pedras...
A visão do gigante em choro... Não é pior do que o olhar de Orfeu...

Pérolas... Ovo... Diamante... Contos...
Lenda viva, enquanto contada.

10:48