Prece.

1.

Malogrados.

São todos os beatos ao descer os sete primeiros degraus de sua paróquia.

2.

Malogrados.

São eles e eu. Que não me canso de inventar um Deus para cada itinerário.

Para cada poema.

Para cada garota.

Para cada crente.

Não me canso de ser o advogado do Diabo. Que Diabo eu não sei.

Os invento também.

3.

Malogrados nós.

Todos os Deuses que invento me recebe com um sorriso.

Os Diabos insistem em vomitar.

Religião canalha essa minha. Lazanha de línguas serpenteando.

4.

Malogrado é todo esse planeta. Todos os planetas. Não me espanta se o desejo homogêneo dos cientistas é se verem livre de todo esse enfado.

5.

As estrelas não sabem de Deus.

Deus não sabe de Deus.

6.

Há uma árvore.

Mil frutos com dez mil sementes.

Estamos em uma delas e Deus é agricultor desse pomar.

7.

Malogradas.

São as formigas do meu quintal que ontem se ajoelharam diante a mim.

8.

Malogradas.

As mil virgens que morrem por ano.

9.

Malogrado é o Deus sem sexo.

10.

Malogrado foi o Polígono Dourado dos Nove Lados do Universo que inventei como amuleto em minha fase celta.

11.

Malograda.

A Princesa das Brumas de Avalon dos meus pensamentos juvenis.

12.

Malogrados os convivas do Banquete de Astros.

No centro da criação. No dia da salvação. Novas crianças nasceram.

13.

Malogradas são as crianças.

Futuros criadores de santos; inocência cativante; dente de alho, azul ou vermelho segundo a candidez das nuvens do céu ou do inferno.

14.

Vitupério e oração são peixes dum mesmo rio. Peixes que vivem nas veias que são rios dum mesmo mar.

São monstros todos os grandes. Grandes, de alturas realmente gigantes.

15.

Comodidade.

Malogrados são os que iniciam uma prece segundos após o despertar dum temporal.

A fé é chuva e neblina, filtro de sonhos.

A fé é contar três vezes os mil e cem passos da tempestade em caminho de casa.

É surreal.

16.

Há um Deus suntuoso e um miserável.

17.

Malogrados os pecaminosos.

Malogrados, mas divertidos.

Traídores Distraídos.

Bom tipo.

18.

Eu mesmo sou um dos mais pecaminosos.

O mundo me castiga todas as manhãs com um chicote de mil cordões espinhentos e com o messias na ponta confuso como o mesmo.

Cada espinhos para cada passo falso.

O próprio Deus fez-me manco. Pior, fez-me após os seus milagres.

( to be continued )

Guilherme Bastos L
Enviado por Guilherme Bastos L em 08/10/2008
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