ADAGA
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Descobri!
Não sou dono de ninguém
Não sou dono de nada,
nem dos pensamentos que varrem minha cabeça
Se é que ainda tenho cabeça...
Porque rins! Eu tive. Eram dois.
Lembro ainda do brilho do metal
Mas não do que aconteceu depois.
Um crepúsculo se instalou,
E tudo se avermelhou...
Podia ter sido no coração,
A dor duraria pouco então.
Mas como foi, ela perdura, lateja,
enquanto a vida se esvai.
Ao som de murmúrios...
São tantos ruídos...
O que está acontecendo?
Será o frio? Essa gente toda sente tanto frio?
Eu sinto frio e tudo é tão pálido.
Sinto cócegas e esse perfume que enjoa.
Não gosto dessas rosas. Ainda mais murchas;
Nem dessa escuridão...
Pelo menos tenho visitas
Não fico na solidão.
Mas ratos, minhocas e baratas!
Quanto os desprezei e agora eles tanto me querem
Nesse porão escuro e frio sinto cócegas,
enquanto eles me mordem.
Alguém mais quer entrar aqui?
Raízes! Raízes batem à porta.
Não são minhas!
Porque estou plantado
em meio à ervas daninhas?
Raízes querem me pegar.
Abraçam-me, sufocam-me e
me absorvem...
Mas isso é um prazer, o único.
Não resta muito mais.
E já nem preciso mais de rins,
mente ou coração.
Tenho do sol a luz e dos ventos a canção.
Vejo melhor que antes, e minhas visitas
de pássaros agora são.
Me feriste com a adaga no passado,
não o faças agora com o machado.