TRÉGUA
Te proponho uma trégua:
Não te lanço mais olhares lânguidos
deixe que fiquem esquecidos
num flerte antigo
num passar de olhos tímido
coisa lá dos últimos românticos
nem te faço mais versos de amor
deixe-os no guardanapo amassado
ou no batom do espelho
ou ainda...no pé da mesa manca
servindo de escora
poema de pé de mesa...há de ser
quem sabe...um novo estilo.
Em contrapartida
Esquece das rosas vermelhas
das datas importantes...da família
dos casamentos, nascimentos...passamentos
esquece das obrigatoriedades
das crises de ciumes
das frases rasgadas...das farpas atiradas
das madrugadas e madrugadas
afogadas na embriaguez
das mágoas
Esqueçamos dos nós...
Atemos apenas os nossos desejos
corpos aquecidos pela vontade da carne
pelo pecado...pela insanidade fremente
Seja meu poema obsceno, pornográfico
minha culpa mais demente...
seja meu cavaleiro negro
de lança em punho...destemido
e cruel...pronto a cravar-me
profundamente...
e sangra-me agora!
Serei pra ti a pobre camponesa
da vida...puta, vadia e largada
doidivanas sem eira nem bera
blásfema e abusada
que ousou erguer os olhos
e fitá-lo...nobre cavaleiro
de arma-dura impecável
Vem ó tirano cruel!
Desembanha a tua espada
e castiga-me a ousadia!
Veste teu traje de "gala"
veste a personagem do dia
lança tua língua de fogo
e toca-me o corpo
penetrando-me as entranhas
sangra-me sem piedade
até que, saciada sua vontade
teu corpo sucumbirá
verterá sobre mim teu gozo
arfante do prazer arrancado
de mim...
e por mim, sempre doado
na cumplicidade
do mesmo olhar lânguido
por ti, ora desdenhado
e, que tantas vezes
te fez rogado.