TRÉGUA

Te proponho uma trégua:

Não te lanço mais olhares lânguidos

deixe que fiquem esquecidos

num flerte antigo

num passar de olhos tímido

coisa lá dos últimos românticos

nem te faço mais versos de amor

deixe-os no guardanapo amassado

ou no batom do espelho

ou ainda...no pé da mesa manca

servindo de escora

poema de pé de mesa...há de ser

quem sabe...um novo estilo.

Em contrapartida

Esquece das rosas vermelhas

das datas importantes...da família

dos casamentos, nascimentos...passamentos

esquece das obrigatoriedades

das crises de ciumes

das frases rasgadas...das farpas atiradas

das madrugadas e madrugadas

afogadas na embriaguez

das mágoas

Esqueçamos dos nós...

Atemos apenas os nossos desejos

corpos aquecidos pela vontade da carne

pelo pecado...pela insanidade fremente

Seja meu poema obsceno, pornográfico

minha culpa mais demente...

seja meu cavaleiro negro

de lança em punho...destemido

e cruel...pronto a cravar-me

profundamente...

e sangra-me agora!

Serei pra ti a pobre camponesa

da vida...puta, vadia e largada

doidivanas sem eira nem bera

blásfema e abusada

que ousou erguer os olhos

e fitá-lo...nobre cavaleiro

de arma-dura impecável

Vem ó tirano cruel!

Desembanha a tua espada

e castiga-me a ousadia!

Veste teu traje de "gala"

veste a personagem do dia

lança tua língua de fogo

e toca-me o corpo

penetrando-me as entranhas

sangra-me sem piedade

até que, saciada sua vontade

teu corpo sucumbirá

verterá sobre mim teu gozo

arfante do prazer arrancado

de mim...

e por mim, sempre doado

na cumplicidade

do mesmo olhar lânguido

por ti, ora desdenhado

e, que tantas vezes

te fez rogado.

Monica San
Enviado por Monica San em 15/11/2008
Código do texto: T1284218
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