PSEUDO BIOGRAFIA

Desde que rasguei o ventre irrompendo a luz

desde que num sopro insólito, num espasmo

exorbito, expurguei d'um corpo o que era pus

desd'esse meu grito esdrúxulo, cheio de sarcasmo

que fez de um orgasmo o peso d'uma cruz

Vim a esse mundo apático, essa vida fátua

esse trilho esquálido, que não me conduz.

Vim a esse tempo estéril, essa casta sórdida

esse mundo torpe que não me contém

Vim como d'uma hecatombe, lasca exaurida

solta e perdida, num espaço aquém.

Vim como se fosse minha, essa vida pérfida

esse mundo fétido, e de mais ninguém.

Dizem que sou fruto (in)útil, resultado (in)válido

de um amor tão pálido, mero querer bem.

Dizem do fulgor que ilude, do amor sarcástico

da pouca atitude, da vida o desdém.

Sou a ordinária soma, o produto módico

a razão inversa da inequação

Sou do santo atributo, do pensar o erótico

no ato irresoluto sou contradição.

E como não bastasse o traço, esse exórdio crasso

nessas linhas vesgas dessa tradução

sou, entregue ao holocausto, vítima do claustro

nesse drama clássico, pura encenação.

Monica San
Enviado por Monica San em 04/12/2008
Código do texto: T1317761
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