A SANTA QUE TE PARIU

Abrasivas e libertinas são as línguas de fogo

que saem da tua boca...

arranco-as com minha própria língua...sugando

até a exaustão da tua mente

Cravo meus olhos vadios nas tuas palmas

percorro e desnudo-te as linhas...desvendo

tuas sendas...

desconcerto...destempero...desalinho!

Tenho a crueldade lasciva que me confere o Sol

fogo que rege meus intentos e me faz

mas que também me desfaz

ao derreter a cera das minhas asas, abertas demais

num vôo cego rumo ao teu epicentro

Em queda livre, o vento que me percorre

e o infinito que me acolhe

trazem o gozo interrompido, no prazer

da extrema liberdade.

Invejo o gozo das putas...

passageiro e democrático, não privilegia ninguém

nem dá tempo ao corpo de impregnar-se

de cheiro, suor ou calor...

muito menos de sentimentos doces

e lembranças saudosas

do último beijo, da última carícia, do último orgasmo.

O último é apenas mais um, até o próximo.

Mas não sou uma delas...

Sou a santa que te pariu espasmos e urros no ventre

tomado pela tua verve indecente

Sou a leoa faminta que, sangrando, te devorou na arena

depois de penetrada pela ponta da tua lança.

Sou a consciência bandida que te arrancou os olhos

ao tocar-me por pura vaidade

Sou teu cheiro, sou teu gozo, tuas linhas

E sou também tua saudade.

Monica San
Enviado por Monica San em 14/12/2008
Código do texto: T1334786
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