A SANTA QUE TE PARIU
Abrasivas e libertinas são as línguas de fogo
que saem da tua boca...
arranco-as com minha própria língua...sugando
até a exaustão da tua mente
Cravo meus olhos vadios nas tuas palmas
percorro e desnudo-te as linhas...desvendo
tuas sendas...
desconcerto...destempero...desalinho!
Tenho a crueldade lasciva que me confere o Sol
fogo que rege meus intentos e me faz
mas que também me desfaz
ao derreter a cera das minhas asas, abertas demais
num vôo cego rumo ao teu epicentro
Em queda livre, o vento que me percorre
e o infinito que me acolhe
trazem o gozo interrompido, no prazer
da extrema liberdade.
Invejo o gozo das putas...
passageiro e democrático, não privilegia ninguém
nem dá tempo ao corpo de impregnar-se
de cheiro, suor ou calor...
muito menos de sentimentos doces
e lembranças saudosas
do último beijo, da última carícia, do último orgasmo.
O último é apenas mais um, até o próximo.
Mas não sou uma delas...
Sou a santa que te pariu espasmos e urros no ventre
tomado pela tua verve indecente
Sou a leoa faminta que, sangrando, te devorou na arena
depois de penetrada pela ponta da tua lança.
Sou a consciência bandida que te arrancou os olhos
ao tocar-me por pura vaidade
Sou teu cheiro, sou teu gozo, tuas linhas
E sou também tua saudade.