Faces de Mim

Hoje há almas de poetas mortos perto de mim,

sábios espíritos que fazem-me criar...

Ontem, a noite chovia, porém não houve criação,

Pois eles não estavam aqui...

Hoje a noite é fria, acolhe a poesia, acolhe-me também,

Acolhe as lembranças de uma vida, o eterno vai e vem

De imagens e sons impossíveis de esquecer...

Pergunto-me sobre o sentido de ser poeta

E do sentido que cada verso tem,

Questiono a razão da própria vida

E perco a estrofe fúnebre um pouco além...

E além de onde posso ainda perguntar

Se a morte tem sentido ou já não tem...

Fabrico palavras soltas em pedaços de papel

E junto novamente em poesia sem definição,

E aí imagino por onde encontrar você...

A noite parece não ter fim, e nem ao menos começou...

Disse-lhe que o tempo não existe,

Do contrário não haveria tempo de escrever...

Sinto-me sozinho e não estou, eles tem comigo,

E sussurram a meus ouvidos a forma de escrever.

A vigília chegou e o perfume está no ombro em que você deitou,

E teu rosto como um templo voltado ao nada

Permanece como estátua em mim.

Estoquei cigarros e bebidas para a noite que não acabará,

E em meio aos vapores do vício consigo decifrar pensamentos;

O que seria poesia senão dar vida aos sentimentos?

Sobre a pedra sepulcral permaneço,

Os pássaros neste instante dormem,

As folhas não obstante morrem,

A morte é poesia e recomeço...

Seu olhar confunde minha confusão,

A alegoria de não saber onde chegar,

A fúria do beijo que não dei,

As relutantes faces de mim...

As atrizes de tempéries e do fim,

O fardo de leão que carreguei,

As horas próprias para chorar,

O caos que a lua gera e que é em vão...

Confunde-me a ponto da insanidade,

De não saber o nome de um sentimento,

De não crer que meu lamento é casual!

Sento-me frente ao abismo, lembro de horas atrás,

O vento inclemente levou-te para longe,

Minhas mãos não podem te alcançar...

Fico com meus fantasmas, eles me encontram,

Sombras impiedosas na escuridão de todos os dias,

E os pássaros já não cantam mais...

As estátuas de pedra sangram minhas dores,

Corro pranto, pois esta poesia não sei como terminar...

Danilo Ramos
Enviado por Danilo Ramos em 07/04/2006
Reeditado em 07/04/2006
Código do texto: T135088