(RE)VESTIR
Apaguem-se as velas
dos velhos castiçais
enterre-se o ranço
das ceias passadas
Nada de fogos artificiais!
Quero o fogo do novo
o cheiro de fábrica
Quero vestir-me de nu
e degustar sabores estranhos
ao meu paladar antiquado.
Quero a surpresa sem caixa
presente, sem laço nem fita
apenas presente
sem futuro, nem passado
nem ponteiros.
E quero um gozo
um gozo de cheiro e gosto
cheiro de corpo suado
de prazer saciado
gosto de pecado
(que ninguém é de ferro)
e os sabores mais ácidos
são também os mais marcantes.
Quero na ponta da língua
a novidade que não se conta
tatear com os dedos
o segredo velado
devorar com os olhos
um lábio molhado
arrancando um beijo
e um pensamento solto
que me faça corar.
E quero tudo isso num brinde
numa taça viva e borbulhante
tilintando um som novo
do hoje...
que finalmente amanheceu
nu e (re)vestido de mim!