Poeta

A ausência de dor faz-me perpétuo, relevante,

Sinto o acre cheiro de minha própria morte,

Pois dela sou o anjo , sou minha prisão,

E na confusão de meus sentimentos não me reconheço, doravante

Pensava eu ser infinitamente menos forte

Perante as dores tantas que fazem-me rir d’abstração da própria vida.

O tempo faz-me parecer eterno, pois já não sou capaz de correr pranto,

E frente ao inferno também não tenho espanto, sou frio,

Sou gélido e até glacial em meus pensamentos, sou o nada.

Meus pensamentos não ausentam-se de meus olhos como antes, sou todo meu,

Controlo-me a cada ato, em cada passo, até aos meus sonhos não entrego-me,

Pois acorrentado estou dentro de mim, junto à razão e aos medos,

Que escondem-me meus próprios segredos, que não deixam-me partir.

Sou agora tudo o que outrora condenei, sou solidão,

Escrevo minha história como nunca contaria em poesias, sou poeta,

Vivo a existência de modo a não ser feliz, e então

Transformo-me em versos anunciantes de meu próprio fim.

Danilo Ramos
Enviado por Danilo Ramos em 11/04/2006
Reeditado em 13/04/2006
Código do texto: T137149