21:30 h

Desce do carro o médico para uma noite de plantão;

Abraçam-se os namorados na ladeira da consolação;

Reza a viúva chorosa, negro luto no coração;

Apregoa um camelô, mercadoria barata, liquidação.

Fecha a igreja o pastor, mais uma noite de pregação;

Rouba o relógio do moço e corre um vil ladrão;

Chora a criança com fome sob o viaduto, sua mansão;

Canta o italiano feliz, uma napolitana canção.

Desce as escadas correndo o operário na estação,

Cantarola triste o boêmio, velho samba canção;

Recupera-se o doente no hospital do coração;

Morre sozinho na casa um milionário ancião.

Repete as mesmas historias o bêbado chato no balcão;

Termina uma linda ária o famoso tenor num salão;

Sonha acordada a mocinha, na espera do namorado, sua paixão;

Acendem se os luminosos, boates, gafieiras, cassinos, perdição.

Não dorme, pulsa o coração de uma cidade em ebulição;

Transição, solidão, oração, paixão, contrição, sujeição, perdição;

Tudo isto num instante, 09:30 h da noite apontada num telão ,

Acaba e começa de novo, interminável programação, televisão.

Guilhermino, 15 de janeiro de 2009.

Guilhermino
Enviado por Guilhermino em 15/01/2009
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