FERNANDO PELTIER X FERNANDO PELTIER – VERSA. CONVERSA & HAJA PROSA! (biográfica, Conversas com Macaúbas)
CAPÍTULO I
1948 / 2009
Quando eu nasci
(perdoe-me, Carlos, o anjo gauche!),
um anjo troncho,
daqueles que vivem “tentando”
olhou-me sério e sem titubear
foi logo dizendo:
- vai, Pel...
sê diverso na vida!
E anjinhos-de-bocas-moles,
responderam em cânone:
Amém! Amém!
Amém! Amém!
Amém! Amém!
Amem!
- A mããããe!
- E aí?
- Aí... ano da graça de 1948...
- Onde?
- Cidade de São Salvador, Bahia.
- Mas, por que o são?... Salvador só não basta?...
- Desculpem-me, quis dizer apenas Salvador. É que o orgulho de se nascer numa cidade tão plural me faz pensar sempre que Salvador não é tão somente Salvador, mas Salvador são!... portanto, São Salvador. Desculpem-me os fundamentalistas...
- Sim, e daí?
- Daí que no dia 25 de janeiro, dia consagrado a São Paulo, data fantástica dos aniversários da cidade de São Paulo e de Tom Jobim, eu nasci...
- Zorra, pouca merda não, coisa paca! Quem?
- Tcham! Tcham! Tcham! Tcham!...
- Hei Bethoveen, sossega no túmulo!
- É o cúmulo!
- Eu, Antônio Fernando Peltier…
- Não diz o resto, deixe que eu o diga: cara de gato! Nariz de fu... (deixa no ar)
- De fu?...(dando pressa)
- De fu... deixa pra lá! Vamos evitar palavrões!...
- Maldoso!... De futucar o prazer de viver!
- Olha, tem mais... o seu nome completo...
- Mais não é pra evitar palavrões?...
- Não tem jeito não, senão intelectual não vai gostar do livro! Vá lá, então:
- Antônio Fernando Peltier Loureiro Freire
- Putz!... se fosse sergipano seria ladrão de cavalo! Psiuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
- Ôxe, e onde entra Macaúbas?
- Depois eu conto. Conto tudo o que a memória lembrar...
- de onde, de quando essa verve, essa veia?
- Um dia numa entrevista,
perguntam-me:
quando,
minha primeira poesia?
Respondi:
- quando nasci.
Saído do morno conforto,
amniótico líquido
pro mundão cá fora...
frigido, quente,
empoeirado, barulhento...
um flash-clarão no rosto
atormentou-me as vistas...
passei do líquido para o gasoso, solidamente.
Agredido com um tabefe
Na pueril nádega,
Bradei, poeticamente:
BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!
(Quanto sentimento armazenado num só brado!)