POR QUE MACAÚBAS? (AUTO-BIOGRÁFICO "CONVERSAS COM MACAÚBAS")

CAPÍTULO XIV

1966

Antônio Fernando Peltier Loureiro Freire, mais nome do que gente, o que sempre me diziam.

Imaginem se eu tivesse nascido no tempo do império, quando se colocavam todos os nomes e os sobrenomes das famílias, materna e paterna. Talvez eu tivesse um nome completo, no mínimo, assim:

Antonio Fernando Peltier Sabino Loureiro Antunes Marques Freire.

Não bastasse o nome único no sentido da singularidade plural, sui generis e gigantesco posto na minha certidão de nascimento: Antônio Fernando Peltier Loureiro Freire, que me geraram e geram sempre inúmeros apelidos, alguns no âmbito familiar, posto que assim me chamavam os de casa, tais como: Tom, Tonho, Toinho, Toninho, Antoninho, Tonico, Tuti; outros de escola e rua como Nando, Fê, Fé, Fefé, Fefa, Nandinho; Pel, Peu, Pelte, Pêute, Pitia, Peleleu, eis que em Serrinha, acharam de me acrescentar o apelido de Macaúbas.

As pessoas então me perguntam: é um sobrenome? Você é de Macaúbas ou de Brotas de Macaúbas? Nasceu no bairro de Macaúbas ou é parente do Barão de Macaúbas? E eu fico dizendo não a cada uma dessas questões. Todos se espantam com as minhas respostas negativas e ficam querendo saber de onde vem esse apelido sim, jamais alcunha.

Resolvi neste capítulo revelar dirimindo possíveis dúvidas até constrangedoras, mas deixa pra lá!...

No ano de 1966, eu já era ator teatral e atuava no Teatro Vila Velha, em Salvador.

Eu tinha 18 anos de idade, estudava o 2º ano Clássico no Colégio da Bahia – Central, no turno vespertino e inquieto de temperamento, trabalhava pela manhã como balconista na saudosa Livraria Pindorama, situada nas Mercês. O teatro, eu fazia pela noite começando às oito horas e sem horário para terminar, de segunda a sexta. A escola e o trabalho eram de segunda a sábado somente no domingo, descansava, ou seja, dormia até quando podia. Um

grande amigo, mais que isso, irmão, Hamilton Safira, médico radicado em Serrinha, havia se deslocado até Salvador para dar socorro a uma vítima de acidente e passado toda a noite operando no Hospital Português. Cansado e sem condição de dirigir o seu automóvel de volta à sua cidade de origem, foi até a minha casa me pedir que viajasse com ele, assumindo a direção do carro, pois temia pelo seu cansaço. Tocou a campainha e foi atendido por minha mãe. Contou da sua necessidade e ela então aproveitando o ensejo para malhar-me, o que era muito do seu costume, desabafou impiedosamente, decretando a minha caveira:

- Esse menino, Dr. Hamilton, é assim. Só quer saber de teatro, de ser artista. Some a semana inteira (que injustiça!) e quando é domingo, dorme o dia todo. Parece até um barão.

Amália, espirituosa cozinheira da casa, bradou comentando, o que lhe veio na mente:

- É o Barão de Macaúbas, Dona Maura!

Hamilton achou engraçada aquela interpelação e já na viagem de volta a Serrinha, começou a me chamar de Macaúbas. Mais tarde, mudei-me praticamente de vez para Serrinha e ele continuou a me chamar por esse apelido e a transmitir aos serrinhenses esse nome que vingou tanto, que certa feita, meu pai e minha mãe, quando do nascimento de minha primeira filha, Tatiana, foram me visitar na cidade e conhecer a nova netinha e ao me procurarem pelo meu nome de batismo, quase retornam sem me localizar, não fosse alguém que me conhecia amiúde e acabou esclarecendo para ela:

- Sei, Antônio Fernando Peltier Loureiro Freire, é meu colega serventuário da justiça, o Avaliador Judicial da Comarca e Macaúbas o seu apelido na cidade.

Mamãe nunca aceitou que eu fosse assim chamado:

- A gente se esmera para escolher um nome bonito e significativo para um filho tão amado e colocam um apelido pavoroso nele: Macaúbas, isso é lá nome de gente? E é!

Jamais se tocou de que foi ela a provocadora dessa situação. Eu nunca, porém, me estressei com isso, ao contrário, criei uma identidade nova para mim, afinal é o nome de mais de duas cidades, de uma personalidade que foi importante, tanto que também é nome de bairro e de ruas por esse mundão de Bahia afora. Assumi, por assim dizer: incorporei-o ao meu nome, com muita alegria. Acho até que ele me dá sorte!

30/12/2004.

Antonio Fernando Peltier
Enviado por Antonio Fernando Peltier em 18/01/2009
Reeditado em 18/01/2009
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