BATISMO SEXUAL
(LIVRO MEMORIALISTA"
CONVERSAS COM MACAÚBAS")
CAPÍTULO XI
1962
A volta diária do I.E.R.P. nas noites sem energia elétrica remetia o grupo de adolescentes ao Maracujá. Nome de fruta era também como se chamava uma das zonas de baixo meretrício lá de Jequié. Eu era o mais novo entre todos e os acompanhava meio inocente, meio sonso, pois sabia o que aquele lugar significava para os homens em termos de busca do prazer carnal, mas como todo bom donzelo, tentava como se pudesse disfarçar a donzelice e a falta óbvia de dinheiro que me movessem a enfrentar a primeira maratona sexual. Até que os colegas perceberam e desconfiados passaram a duvidar das minhas preferências em relação à sexualidade. Então, um dos mais chegados como amigo começou a investigar e por fim, perguntou-me ele, ao léo:

- Peltier, por que você não faz conforme nós fazemos?
- Não estou entendendo, embora a face avermelhada denunciasse a minha insegurança e vergonha.
- Veja bem, a gente pega uma puta e leva pro quarto. Se você não faz o mesmo, ou não é chegado na fruta ou então, o quê é?
Aquilo quase me mata. O coração disparou e as pernas deram pra tremer. Imaginem a voz.
Disse:
- Qual é cara, eu sou homem, mas sou inexperiente e também só vivo duro. A grana que ganho no cartório é muito pouca e mal dá pra pagar os compromissos que assumi comprando minhas roupas.
O sacana então virou para o resto do grupo e bradou:
- Tem donzelo no pedaço, turma!
Ali, um outro parou e disse:
- Então vamos corrigir essa situação, afinal, o cara é menino, mas é dos nossos, gente boa e aí não tem perrepes, se a grana dele não lhe dá condição de derramar o óleo, a gente faz uma vaquinha e ele então perde o cabaço. Vamos marcar pra amanhã e vai ser uma festança!
Quase não dormi naquela noite de véspera, de tanta emoção. Pensava como seria o momento, a hora H, será que vou decepcionar? Como beijar na boca uma puta que chupa pau de todo macho?

Dia seguinte foi estressante. Mas enfim estava eu na sala da casa do brega e a turma mandou que eu escolhesse a mulher que mais me agradasse. Outro dilema! Todas eram simpáticas, mas teve umazinha, pela qual eu me encantei. O seu nome, eu não lembro ou nunca soube, mas fui com ela pra cama e ela parecia ter sido esclarecida pelos amigos para que tivesse cuidado comigo, pois era donzelo. E ela foi carinhosa e atenciosa, por demais. Começou tirando os meus sapatos e foi folgando o meu cinto e arreando as minhas calças. Depois, desabotoou botão por botão da blusa de minha farda escolar me deixando somente de cueca samba-canção, a tradicional peça íntima masculina da época. Aí começamos a nos agarrar e beijos e abraços e carícias e percebi que deveria retribuir todo o cuidado que ela teve ao despir-me, tirando as suas roupas compostas de vestido, sutiã e calçola. Em meio a tantas dúvidas e inseguranças, começamos assim uma esteira de carícias múltiplas e plenas e fomos nos sentindo na maciez e texturas as mais diversas dos dois corpos fundidos num só, análises minuciosas de sentimentos e sentidos, jogos de brincar com as mãos, tudo num ir deixando acontecer até que aconteceu para ambos, magicamente num crescente até o ápice do prazeroso gozo e foi ali que me dei conta de ser homem, não apenas o homem masculino desbravador e forte, mas o ser humano que eu começara a debulhar grão por grão para conquistar cada etapa de vida. Numa viagem calma entre a satisfação mais que plena e um cansaço maratônico, pude ver através das falhas de um telhado de cerâmica pobre e simples, a réstia de uma luz misturada aos próprios pensamentos sobre o que é viver, a relação inter-humana, as trocas, o passado e o presente em expectativas futuras: vãs filosofias ainda sem consistência ou sem terem sido provadas cientificamente.

A partir daqueles raríssimos e inusitados segundos de orgasmo e até hoje ficou a viagem inter-galática universo afora. Não dá pra descrever senão até aí. Não deu para esquecer o momento primeiro, único, próprio daquele momento. Depois dali, só correr para o abraço e tentar ser sempre muito melhor do que aquele. Algo ocorreu fantástico no primeiro contato em que o meu indicador da mão direita tocou o clitóris da parceira. Transportei-me à memória do que acontecera comigo ainda muito pequeno, quase bebê. A macieza têxtil, o calor e o melado de um líquido que saía de sua vagina, tudo igual ao que senti naquele momento no breu onde dormia com uma babá de nome Lurdes. Durante a noite acordei por causa dos movimentos ansiosos da mesma e percebi que a sua mão colocava o meu inocente dedinho indicador da mão direita nas suas partes e eu gostava daquilo, era tão gostoso quanto à chupeta, que nem recordo se cheguei a sugar na puerilidade, mas somente naquela primeira noite nupcial propriamente dita e inteiramente consciente ocorrida no mangue de Jequié puder rever aquele incidente e pelo menos a partir do sensitivo, o lugar, a negritude do quarto, o calor e até o cheiro forte que exalava das entranhas de mulata Lurdinha.

Depois dali, daquela noite do Maracujá se me perguntassem: já chupou maracujá? Responderia: mara?... Não!...
Antes, as experiências sexuais foram quase que acidentais: um colega do Colégio de São Bento chamado Augusto, também no retorno das aulas contava a todo um grupo de púberes, todos mais novos e inexperientes que ele, inclusive eu, como ocorria a tal da masturbação e discorreu detalhadamente sobre o que ele costumava fazer nas chances que tinha consigo próprio de se cometer o sexo, inda dava conselhos, por exemplo, a quem tivesse banheira em casa com possibilidade de água morna, que a enchesse e mergulhado na mesma começasse a acariciar sua genitália com as mãos num calmo e/ou frenético vai e vem. Só de pensar naquilo, eu já me excitava e chegando em casa, não contei dois tempos, fui antes mesmo de satisfazer outra necessidade fisiológica rotineira que era a de almoçar, tranquei-me no banheiro abrindo as torneiras quente e fria enchendo a tal banheira e tentando equilibrar a temperatura chegando ao confortabilíssimo morno e descasquei por assim dizer a primeira ´bronha´, sem sequer ligar para o trânsito natural das pessoas que necessitavam de ir ao sanitário diversos motivos, inclusive o de lavar as mãos para o almoço. E quando cheguei ao desfecho do meu auto-ato-sexual, quando senti conscientemente, pela primeira vez, o orgasmo e principalmente vi fluir de dentro de mim o próprio sêmen, apavorado, pensei que estava tendo um treco ou que cometera um pecado terrível ou então estava gravemente doente. Até que tudo se acalmou passando, zerando aquele meu estado e fui percebendo o quanto foi bom, bom não, delicioso, delicioso é pouco, maravilhoso, maravilhoso, o quê? Fantástico evento. Tornei-me um ´punheteiro´ contundente e contumaz! E quanto mais, melhor! Não adiantava o padre João, professor de Religião continuar a falar de pecado, de doenças, etc.

Mas outro instante muito marcante na minha pregressa trajetória sexual foi um dia em que brincávamos de esconder, eu, outras crianças e a filha da empregada da casa. Coincidência ou propósito, paralelo ou perpendicular, eu e ela escondemo-nos no mesmo lugar, debaixo da minha própria cama, e a garota ao notar-me próximo a ela, achou de se achegar aconchegando seu "trazeirinho", colocando-o bem coladinho ao meu "piu-piu" ( ih, não sei porque lembrei de "O Encontro Marcado", de outro Fernando, Sabino, que no contato quase direto, quase, porque uma calcinha, separava nossas dermes, achou logo de ser continente, o pinto preferido do Frajola, é claro, e ela ainda menos conformada com o nosso posicionamento, a tal diabinha, roçava-se em mim, que muito empolgado não conseguia pensar noutra alternativa a não ser a dar vazão àquela refrega que levava a uma incontrolável e crescente sensação de prazer e de me dar bem e timidamente, nem me ocupei com o dar-se bem da correligionária sexual, creio ter gozado ali pela primeira vez, o gozo seco, ainda sem sêmen, antes mesmo da cena da banheira.

Após esse acontecimento, morri de vergonha da garota, de sua mãe, de todos, carregado de um sentimento terrível de culpa dissipado, mais tardar, no dia seguinte.

Bem, como "dúvidas são como dívidas"... uma vão, outras vêm!..., conforme o título do capítulo "Batismo Sexual", não sei onde, nem quando ou quem a madrinha... haja vista essas peraltices sexuais infanto-juvenis.

Mas sei com certeza, que "um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria..." (Gilberto Gil)

 
Antonio Fernando Peltier
Enviado por Antonio Fernando Peltier em 20/01/2009
Reeditado em 25/09/2011
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