Um poema orgulhoso de ser samba

Um poema orgulhoso de ser samba

Tão quentes quanto o fogo quando dança sobre a brasa

Os músculos vibrantes da mulata, quando dança

Refletem nossa alma que, pacata, não descansa

Nos flashes dos olhares que se lançam sobre ela

Que linda esta menina, quase deusa de tão bela!

O negro dos cabelos reluzindo na avenida

Que triste ficaria a terça-feira na favela

Se não houvesse o samba p´ra alegrar a nossa vida

Que triste aquela branca que, ao chamá-la de perdida

Não vê que a própria filha, tão querida, faz calada

As coisas que imagina que esta deusa então faria

Buscando a alegria, sempre em vão, numa balada

Que coisa deu na gente ao ver o quanto ela sorria

Sentindo a energia que, a vibrar entre os quadris

Fletia nas ondulações viris das suas coxas

Qual ninfa aquela moça de feições quase infantis!

As lentes que tornavam os seus olhos tão azuis

O reluzir de ouro dos seus trajes tão escassos

A purpurina prata que brilhava sobre a pele

A elegância régia e feminina dos seus passos

Olhando para o mar, reflito como esta rainha

Trazida como escrava, sem mais nada que seus genes

Guardava no seu ventre este tesouro que, hoje em dia

Herdaram brasileiros tão briosos e solenes

(Djalma Silveira)