Óbvio da vida

Tudo tem um fim. A vida começa viçosa e de olhos bem abertos. Frente e verso humanos refletem o vigor e a beleza da juventude. A vida corre sem parar e acaba chegando a lugar nenhum. O que vale é a emoção adquirida entre um esticar e contrair dos músculos. Os cabelos compridos, as pernas esguias e os ombros largos desfilam suntuosos para a platéia do atrair e seduzir. As pupilas dilatam e se recolhem freneticamente diante da janela do novo. Enquanto isso, o tempo passa despercebido pelas costas da juventude e sobre ela deposita o peso das horas, dos dias e dos anos passados.

O fardo não é leve. Ninguém consegue vencê-lo. Não é possível guardá-lo para depois tornar a carregá-lo. E aí, vamos ficando mais frágeis, mais impressionados com o futuro e menos preocupados com o presente. Já aprendemos a lidar com nossa ansiedade, nossos erros e, às vezes, nossos medos. Mas também acrescentamos sulcos, cabelos brancos, ou a falta deles. Aumentamos nossos anos e perdemos nosso vigor. Os lábios estão secos. Os olhos pesados. As mãos já ficaram duras. Pernas e ombros antes esticados, agora se acovardam pela bravura insistente do tempo.

Resta esperar aquela visita que sempre prometeu chegar, mas nunca revelou o momento. Aguardamos por ela como um resgate. Parece que ela surgirá como um alívio para os dias impetuosos de uma jornada em que não nos foi permitido escolher competi-la. Sim, competir. Por que desde que há vida, há também um duelo entre o que respira e o que descansa. Diante de um fim tão iminente ficamos a sonhar. Em devaneios imaginamos nossa vitória. Vislumbramos o segundo exato em que o relógio deixará seu curso normal e começará a retroceder. Parar o mundo. Voltar a vida. Tudo isso só para nos dar outra chance de viver.

Cabreira
Enviado por Cabreira em 26/01/2009
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