a morte do lago
A MORTE DO LAGO
No berço da terra, o lago dormia,
Teu cobertor era neblina,
Nas noites geladas e sombrias,
Naquelas paisagens, sob a luz da colina.
Desate o laço do Sol,
Abra as janelas do espaço,
Reflete o lago tão nu sem lençol,
Na magia das ondas, me refaço.
Luz que brilha nas águas serenas,
Vasta imensidão que vive e não peca,
Fonte absinta, solidária e pequena,
Vida que morre no chão, resiste, mas não seca.
Se veste da lama que ainda tem,
Tira do seio o sabor do barro,
Fuja pelo vento, não diga a ninguém,
Ficarão os vestígios, rachaduras no jarro.
A morte do lago foi inevitável,
Conspiração da terra, mente do clima,
Esgotou da veia a água potável,
Não ouço o canto das rãs, fecharam a cortina.
Nem tão pouco as minhocas ficaram ali,
Sem terra molhada, sem oxigênio,
Moradores do lago, nunca mais eu vi,
Talvez para sempre ou em outro milênio.
Agora sem vida, cicatriz da terra,
Um corpo escaldante que em pó agoniza,
O porto dos pássaros, a sede se encerra,
Saudade do lago, a imagem me realiza.