DE BECOS E SUSTOS

1 A palavra beco/

não cabe na caixa/

comprada no inferno/

por um demônio astuto.

O susto que levo/

quando acordo em chamas/

rondando na noite/

como um traste à míngua.

2 O canto é o lugar onde se morre/

como convém aos loucos de sempre/

antes mesmo de fechar os olhos/

com a boca dilacerada pelo mal.

É assim que as horas torturam/

o que resta de todo e qualquer tempo inútil/

no canto que é o lugar onde se morre/

com uma espada cravada no ventre.

3 Rir e ruir e roer/

não a roupa, mas o tempo que se esgota neste agora;

rasgar, rosnar, romper:

as amarras da palavra num túnel escuro.

Rir e roer e roer e ruir/

O para sempre que desnuda a lassidão das coisas:

rir e rir e roer e rosnar/

rasgar/

rasgar e rasgar e romper.

4 Lama e sujeira/

e ratos nos esgotos/

minhas noites são horrendas/

no rosto de um monstro impiedoso e cruel.

Lama e sujeira/

e mais e mais buracos na alma/

que se alimentam do sangue/

destas horas de nada.