A CADA DIA
A cada dia menos tocamos a realidade
A cada dia a mais a realidade sai de nossas pequenas e cheirosas mãos
A cada dia menos esse cheiro tem resquícios de sensibilidade poética
A cada dia o dia se vai com mais ardência afetiva
A cada dia o dia ia da cozinha para o sofá da sala com maior frequência
A cada dia o dia se suspeitava que era uma imagem
A cada dia mais a gente sabia que tudo aquilo não passava de verbos repetidos e sem formas temporais
A cada dia menos sentiamos os dias sem que suas imagens estivessem lá
Já não sabiamos de sua pele
de sua viscosidade
de seu sangue
cheiro, sons, e seus outros cheiros
O dia ficou claro demais para ficarmos com medo.
A música vai fazer falta,
a velha música...
Um dia ainda saberemos o que é ficar diante os olhos que estão nos espionando e dando imagens de comando.
Um dia a cada dia mais menos sentiremos...
É isso?