Reparação

u errei, enfim eu reconheço,
mas isto não basta, é apenas um começo,
de um processo do qual eu desconheço,
como reparar o mal que fiz.
Será que devo escrever a cada um em separado,
por carta ou por e-mail,
ou devo publicar pelos jornais, em letras garrafais,
e assumir a minha culpa, pedir desculpas,
e que cada um apele aos tribunais,
para que o dano seja compensado?
Mas seja como for eu esclareço,
que de tudo o que eu falei, ou que pensei,
estava afinal errado,
eu errei quando afirmei,
e também quando neguei,
e até mesmo quando afirmei a negativa,
ou neguei a afirmação,
Meu Deus! Que confusão,
que tanto mal eu causei por tão pouco me calar.
Mas não adianta lamentar,
devo aqui assumir meu erro,
e pacientemente reconhecer,
que também errei quando calei,
quando escrevi ou pensei,
e até mesmo quando deixei de escrever,
assim como também errei por antecipação,
errei pelas palavras que ainda sequer proferi,
nas que eu amanhã manifestar.
Saibam desde já que amanhã, quando eu opinar,
estarão erradas as considerações,
e mesmo quando desditas, ainda permanecerão erradas.
É que tudo mudou e eu não fui avisado,
ou distraidamente não percebi,
sou por demais desleixado, desatento,
não tenho tempo,
estou fora do meu tempo,
estou atrasado ou à frente desse tempo,
ou sei lá o que aconteceu,
quando o dia amanheceu diante dos meus olhos.
A vida, enfim, e muito mais complicada que pensei,
a não ser que mais uma vez eu esteja errado,
quem sabe ela não seja muito mais simples que pareça,
e sou eu quem insiste e avilta-la, ou avulta-la,
procurando respostas que não existem,
pessoas que não existem,
lugares que não existem a não ser dentro de mim?
Mas o que importa isso agora?