A cor da morte
às vezes fujo para dentro de mim,
abro todas as portas,
todas as janelas
como se eu fosse uma casa abandonada.
abro também os olhos
e, em total desespero,
deixo desabar o pranto
em vômitos seguidos de dor.
me deixo ali,
acomodado,
prostrado como um verme
em putrefação.
as forças me fogem
os desejos me consomem
por dentro e por fora,
ninguém me acode.
as janelas não têm trincos
as portas não têm ferrolhos
os meus olhos não têm as lágrimas
a minha dor não tem limite.
nas paredes, a sombra do meu corpo
desenhada com raro esmero
repete com perfeição o monstro
que agora carrego dentro de mim.
neste momento
tenho vontade de me matar,
de envenenar a minha comida,
de rasgar as minhas novas feridas.
mas sou um nada
um indiferente
um delinqüente
perdido nos vagos versos,
por isso, não me mato