Poema de Fim de Tarde

"Hoje a cidade anoiteceu

antes de mim,

antes de marte,

da arte, como parte,

do que existe em mim.

Hoje as nuvens tomaram o céu

de mim, de você,

de todos os que,

sem saber por que,

amam infinitamente conscientes

do mal, do sofrer,

do querer bem,

do morrer docemente.

Hoje o poema morreu,

o poeta também,

e tudo também,

só restei eu mesmo,

e a distância

que nos impede de sermos felizes

como dois que se procuram

nos bolsos, nas fotos na carteira,

nos olhos, nos sinais de trânsito.

Hoje o dia anoiteceu

mais leve,

só em mim o céu é mais negro,

só em mim

o amor floresce."

"Amigos morrem,

as ruas morrem,

as casas morrem.

Os homens se amparam em retratos.

Ou no coração dos outros homens." (Gullar, Ferreira; "Improviso Ordinário Sobre a Cidade Maravilhosa" - Na Vertigem do dia, pág. 106)

Diego Filipe Araujo Alcântara
Enviado por Diego Filipe Araujo Alcântara em 04/05/2006
Código do texto: T149937