A PÉROLA
A PÉROLA
Escondido entre as pedras lá do mar,
Vive o molusco numa concha fria.
Simplicidade, vida singular,
Sem um lugar ao sol, sem alegria.
Anonimato é tudo o que possui,
Enquanto tudo passa, tudo flui.
Eis que um dia aparece a mão humana
E transforma a paisagem num segundo.
Essa mão tão estranha, soberana,
Um passaporte para um outro mundo,
Abre a concha e retira com presteza
O que lá dentro havia de nobreza.
Morto o molusco, o bem que possuía
Outro destino tem... e corre o mundo.
Já não tem de aturar a maresia;
Desconhece as areias lá do fundo.
Só freqüenta a mais alta sociedade
Como jóia de grande raridade.
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No fundo da gaveta, a poesia
Permanece qual pérola, escondida,
Aguardando o raiar de um novo dia,
Uma chance, uma porta, uma saída.
Morre o poeta e então terá valor
O que em vida guardou com muito amor.