A PÉROLA

A PÉROLA

Escondido entre as pedras lá do mar,

Vive o molusco numa concha fria.

Simplicidade, vida singular,

Sem um lugar ao sol, sem alegria.

Anonimato é tudo o que possui,

Enquanto tudo passa, tudo flui.

Eis que um dia aparece a mão humana

E transforma a paisagem num segundo.

Essa mão tão estranha, soberana,

Um passaporte para um outro mundo,

Abre a concha e retira com presteza

O que lá dentro havia de nobreza.

Morto o molusco, o bem que possuía

Outro destino tem... e corre o mundo.

Já não tem de aturar a maresia;

Desconhece as areias lá do fundo.

Só freqüenta a mais alta sociedade

Como jóia de grande raridade.

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No fundo da gaveta, a poesia

Permanece qual pérola, escondida,

Aguardando o raiar de um novo dia,

Uma chance, uma porta, uma saída.

Morre o poeta e então terá valor

O que em vida guardou com muito amor.

Gilson Faustino Maia
Enviado por Gilson Faustino Maia em 26/04/2009
Código do texto: T1560074
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