PARQUE

Se te vestisses de folhas,

e te misturasses ao tom dos arbustos das árvores

e das bananeiras do parque,

e o nergume espesso e incipiente da noite

mergulhasse tua figura num indecifrável mosaico,

como se não fosses mais que um qualquer quadro

pregado a uma parede -ambos já sem importância-,

se claridade alguma, fosse de sol,

de lâmpada, de sorriso, ou mesmo

qualquer outra luz te revelasse

e tua forma fosse ficando a cada dia indefinivel,

e teus olhos paralisados se fechassem

indiferentes a qualquer movimento,

se teus dedos se tornassem galhos

e teus pés fincassem raízes,

e se a seiva que cai do teu corpo

umedecesse o solo em volta e alimentasse as flores,

se tua língua desse frutos,

se fosses berço de pássaros,

se em tuas costas coubessem cada uma

das gotas do sereno noturno,

e tivesses toda a epiderme tatuada

por corações a canivete,

e se de teus orifícios brotassem sementes,

e se em uma de tuas longas e ásperas mãos

um homem sonhasse construir um balanço

para brincar com seu filho,

se ficasses tão triste a cada outono

até que se perdessem todos os fios de tua cabeça,

mas revivesses gloriosamente a cada chuva,

alheia ao tempo que mata os homens

e te torna cada vez mais bela,

então um dia eu chegaria,

extenuado e febril,

e descansaria meu frágil corpo à tua sombra

e, sorridente,

faria de ti a minha única

e derradeira namorada...

Benilson Toniolo
Enviado por Benilson Toniolo em 10/05/2009
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