ofertório da saudade anunciada

esvai-se o tempo

abrindo o tampo

de tudo de tanto

que tento nas noites

escrever de fugaz

que escorre da cana

que quebra na cama

que doido se trai

que muda de uma

pra outra estação

que cobre o rosto

descobre que posto

que a vida que rouba

o rosto que morde

não fala não fala

no mudo ouvido

e todo sentido

que pode nascer

da porta aberta

que aperta o nome

do que nunca se soube

se houve ou se há

amarga a língua

seca a tragada

tango samba balada

a boca velada

a vela apagada

a luz que acende

sem meias verdades

sandálias descalças

vestindo saudades

nos meus olhos teus

Nel Meirelles
Enviado por Nel Meirelles em 10/05/2005
Código do texto: T16076