Falta-me sentido

O vento é um andarilho vadio que leva consigo o odor do passado, que uma hora me acaricia com ternura a tez e noutra me estapeia descomunalmente como um algoz enraivecido sedento por alimentar seu instinto masoquista.

O que faz lembrar-me que sinto-me às vezes perseguido por minha sombra eternamente, que consegue de maneira inimaginável nunca desgrudar de meus pés. Mesmo que eu sacuda e esperneie ou mesmo tente traçar um risco que nos separe, ela não se isola de mim. Massa densamente negra que transforma-me em coisas que não sou e gostaria de ser e que gostaria de jamais ser. Ri-se de mim e arquiteta planos de tomar posse de meu corpo, tornando-se senhor de si rumando por caminhos diferentes.

E fico confuso percebendo que quando adoraria que você estivesse bem aqui do meu lado é quando eu realmente não suportaria a tua presença a observar-me e julgar-me com seus olhos silenciosos. Sufoco-me apenas a acreditar que já fui seu aliado-escravo-amante e nunca tive paga que valesse essa minha conduta.

Acho que falta-me sentido e melhor não continuar. Continuar algo que nem mesmo comecei, pois só estiveram em nesse mundo imaginário trancafiado em minha cabeça.