Escracho (Desabafar Poético - XXXV)

Desabafar Poético - XXXV

"Quero que saibas que me lembro

Queria até que pudesses me ver

És parte ainda do que me faz forte

E, pra ser honesto,

Só um pouquinho infeliz..."

(Legião Urbana - Giz)

Você não vale os trinta reais da tatuagem

A marca eterna no braço e a cicatriz

fixa acima do ventre, não vale a madrugada de sono,

O dia em que a manhã me apavorou...

Não vale as cinzas que sobem aos olhos

E o cigarro preto que carrego nos lábios,

Mas como minha alma não é pequena

Embora minha estatura seja baixa

Valeu a pena, o poema,

As madrugadas de Oneiros e Orpheus,

O pranto que plantei nas estrelas

E o choro que incauto subiu à lua.

Mas não vale o uivo do lobo

E o sopro solista do corvo,

O frio silêncio de congresso

Que vespertino prostrou-se no seio de Valentim,

Não vale a pena e a prosa,

A tristeza do eclipse do verso,

Uma garrafa de vodka e a Aria livre do flautim!

- Entretanto, talvez inda valha

A arma e o projétil de prata que carrego

entre os dentes de aço e chamo de verbo!

E quem sabe, este escracho com ar de desabafar.

(Rafaela Duccini - 21/05/2009)

R Duccini
Enviado por R Duccini em 22/05/2009
Reeditado em 22/05/2009
Código do texto: T1608902