O MEU SILÊNCIO

Fui caindo no silêncio

como quem mergulha de noite

para uma piscina invisível, lá em baixo.

Foi como pular duma prancha, ás cegas,

para uma água escura onde não chegava.

Firmei o corpo, preparado,

para um impacto que não acontecia.

A elegância do movimento sumiu

quando os músculos gritaram dúvidas

á eternidade imensa, intranqüilos,

e da queda sobrou apenas a angústia.

A suprema angústia de cair sempre,

numa vertigem de saber-me despencando

sem saber até onde ou quando.

Sem pontos de referência

capazes de satisfazer a razão.

Depois, os gestos instintivos,

dum arrependimento sem lugar

perante o irreversível.

E finalmente, o silêncio chegou

num estrondo de carne castigada

e respingos de prata.

E o silêncio não fez sentido.

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 22/05/2009
Reeditado em 23/05/2009
Código do texto: T1609189
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