Tempo de nostalgia

Existe um sentimento
que,
no momento,
parece devorar todos
os outros.
Ele é onipresente.
Sem distinção de cor,
credo
ou nação,
perpassa todas
as gerações,
domina o mundo
globalizado,
está evidente nos olhares
doces, meigos
e até mordazes.
Não há quem não o possua
dentro de si.
Com a velocidade do tempo,
das horas,
com a ausência dos sonhos,
da fantasia,
sem ócio tão necessário
para o devaneio,
a crueza da vida
tornou-se insuportável.
As fronteiras desapareceram
com a internet,
privacidade virou palavra
do museu semântico.
Um olho gigante acompanha
cada passo:
meu,seu,
de qualquer um.
Então nesse caos
a descoberto,
a nostalgia ocupa
todos os espaços
de uma humanidade
carente de tudo.
Dentro de nós
agora ecoa
uma voz saudosista,
querendo de volta
o que ficou no passado:
a ternura, a conversa
sem hora marcada,
o convite,
o deleite,
a confiança principalmente.
E nessa correria estressante,
nos tornamos mais e mais
nostálgicos,
corremos atrás
de nós mesmos,
perdidos nos emaranhados
de uma modernidade
desconcertante.
É bom que assim seja,
que a falta do que
foi bom
aconteça.
Então resgateremos
de nossas reminiscências
tudo o que foi olvidado
em nome do progresso
e ficaremos em paz
com nossas emoções.