um dia de papel

um dia

impresso em papel moeda

sobre a mesa

dobrado e amassado

um pouco sujo

centenas de sorrisos

divididos

entre bons-dias

ou boas-tardes

e muito-obrigados

milhares de pulsos

centenas de células mortas

meia dúzia de inspirações

e nenhum poema decente

tempo feito troco

sobra do trabalho alheio

creditado a terceiros

e entregue a mim

assim, dobrado

em duas notas

uma de vinte e

uma de cinco

tempo passado

nem mal gasto

nem bem feito

só passado

um dia inteiro

sujo de micróbios anônimos

na mesa da cozinha

sobre o mármore

sob a porcelana

é tarde

e daqui a pouco

depois de umas horas inerte

mandarei esse dia de volta para o ciclo

muitas horas ainda

serão debitadas

cairão no esquecimento de si mesmas

no ciclo do tempo que se dá ao banco

os dias de cumprimentos e sorrisos

as horas impressas em notas seriadas