Espelho

A vaidade parece falar mais
alto
nos dias de hoje.
E como "Narciso acha feio
o que não é espelho",
todo mundo anda
cultuando sua imagem,
com medo de envelhecer,
buscando a juventude eterna.

E na esperança
de viver o impossível,
vão postergando
as emoções,
adiando os sonhos,
aguardando o melhor
momento para
suas relizações.

De repente,
diante da gente,
vemos uma imagem
diferente.
Já não nos
reconhecemos mais.
Quem é essa pessoa
que vejo a minha frente?
De quem são esses
cabelos brancos?
Essas rugas sulcadas
em meu rosto?
tão nítidas,
indisfarçáveis?

O tempo passa
inexorável.
E como é democrático!
Se não o temos
como aliado,
aí sim,
o drama se torna
pungente,
uma vez
que o vazio inclemente
não pode mais
ser prenchido.

Não é bom se render
ao narcisismo,
a viver do culto à beleza,
antes há que se cuidar
da alma,
das inquietações
do espírito,
das singelezas
da vida.

E sem a negação
dos anos,
é possível sentir-se
belo e feliz
na ausência do frescor
da idade,
uma vez que
a amorosidade,
fiel companheira
de uma vida inteira,
nos coloca em paz
com o espelho,
refletindo o que é realmente
belo:
a paz do coração.