Querência

Quando o coração
está vazio,
já não bate
num descompasso
saltitante,
já não desperta sonhos
leves e possíveis,
e muito menos
almeja a fantasia,
é sinal que algo
não vai bem.
É tempo de fazer
um balanço,
de sair da mesmice,
de refazer o caminho,
de incomodar
o vizinho,
nem que seja
em busca
de um dedo
de prosa,
de uma xícara
de açúcar,
ou qualquer
outra desculpa.

Mas é preciso
fazer a ponte,
entre a solidão
e o contato.
É necessário ir
atrás do que
não é espelho,
Antes que seja
tarde.
Antes que o desejo
não saciado
vire querência,
que é muito mais
que ficar só.
É a fase dolorida
da ausência
do querer real.
É a comprovação
de se buscar
o vazio,
de achar
que não há
o mundo lá fora.

O querer exige
um outro olhar,
pede colo,
carinho,
satisfação.

Eu quero
o que o amor
pode dar,
quero
a transparência
do diálogo,
da presença,
e refuto
a neurose
da auto-suficiência.