Capitu

Ah, esses olhos
de cigana oblíqua
e dissimulada,
essa pele morena,
esse olhar de ressaca...


Capitu trazia em si
a síntese
da miscigenação,
essa mistura de raças
tão rica
que,
para mim,
é a riqueza maior
do Brasil como nação.

Mas terá sido
Capitu
tudo aquilo
retratado na história?
Ou ,
por outro lado,
não quiseram diminuir
sua glória?

As ondas de seu olhar
de ressaca
espraiavam pura sedução,
e
o pobre Bentinho
foi devolvido ao mar
de seu desespero
e lá ficou
mergulhado
numa solidão
por si mesmo
construída.

E Capitu virou
símbolo
de adultério,
de mulher interesseira,
uma alpinista social
daquela época.
Mas eu sempre achei
essa visão
reducionista demais
diante da riqueza
de seu mistério.

Essa personagem
tão sedutora,
trazia consigo
vida,
encantamento,
magia.

Já na sua infância
mostrava o que queria,
se insinuava,
tramava,
era resoluta
em seu desejo.
E esse seu jeito
despojado do pejo
necessário
ao mundo feminino,
fez dela um protótipo
perfeito da traição.

Vivesse hoje Capitu
a história
seria diferente?
Do seu julgamento
sairia inocente?

Esse olhar de cigana
oblíqua e dissimulada,
essa morenice brejeira,
esse querer tão intenso,
essa agilidade no pensamento...
Sei não!

A única diferença
talvez
é que ambos poderiam
reconstruir suas vidas.
Ela buscaria
um amor mais intenso
e verdadeiro.
Ele encontraria
por certo
um carinho mais ameno,
alguém menos exuberante
que não lhe tirasse
o sossego.

Se fosse hoje
o cenário desse
romance machadiano,
Capitu arrancaria
suspiros
como eventual protagonista
de uma novela global.
E Bentinho?
procuraria um analista
para tratar de sua baixa
autoestima
e tentar ser feliz.

amarilia
Enviado por amarilia em 20/06/2009
Reeditado em 10/03/2013
Código do texto: T1658232
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