POEMAS SEM TÍTULO

I

um poema sangra/

em minha alma rasteira/

ele é feito de nada/

como as nuvens da hora.

este tempo maldito/

resvala nos postes/

enquanto as luzes se apagam/

rasgando o ventre da noite.

II

Duas horas e mais nada/

nesta madrugada de fogo/

o revólver calibre qualquer/

e mais o alento na palavra suicídio.

Duas horas e mais um sujeito/

que aguarda o seu fim/

como quem deglute o vazio/

inerte na palavra abandono.

III

corto o pão/

com a palavra tédio/

quando em mim apodrecem/

frutas vermelhas.

meu mal é estar/

sempre de costas para o mundo/

como se fosse possível escolher/

entre a cruz e a espada.

IV

Um desejo de nada/

invade este meu espírito sedento/

e a morte vem ter comigo/

como se eu fosse o seu mais íntimo refén.

Meu corpo esmorece/

e eu me perco em todos os corredores escuros/

para jamais reencontrar o que não fui/

crivado de balas o meu peito.