EU 4 - amanhado de naufrágios

_________________ EU (4)

Do nada ao quase nada,

do nulo ao ínfimo,

e, enfim, do átomo à coisa,

no ascendente de uma via

pelo curso do tempo.

De novo:

da vida ao vital,

do sentir ao ser

por ápices de movimento

que o universo inspira.

Entretanto,

e entre o tanto

que aqui se revolve,

a descoberta

de um querer novo

dentro da gente

e da vontade-frenesi

de um todo renovado,

Daí a respiração

reformular-se admirável;

daí o abrir de braços

para abarcar o céu.

Ah! Meu céu

de fora e de dentro

meu céu, meu desvelo

que eu festejo

de dentro para fora.

Se o questiono

ele entende

e no silêncio, responde.

Talvez só, porque

cai uma gota

no meu rosto de Outono

e eu pressinto

que vai chover.

Talvez porque

cai uma lágrima

de estrela incontinente.

E, sim!, vai chover!

Fica-me um pasmo

por uma migalha

líquida e declinada

só para ficar aqui,

comigo,

a fundir-se a mim,

a mascarar-se

de ser cristalino,

e, porque não?,

para me agradar.

Fecho os braços

a envolver tudo

o que me é,

ainda que só no enlace

a um par de ombros

(mal) amanhado de naufrágios.

Suspiro o sentir perene

da tormenta

no meu deserto

pela razão avassaladora

de querer essa chuva

a poisar em mim

e o céu num pranto

de lágrimas consteladas.

Tudo isto à conta

de ainda não saber forjar

a verdade que me falta

no imenso desencontro

com o nada e o nulo;

...de não saber

inventar a raiva

do intenso desencanto

com o quase nada

e o ínfimo do que abarco.

Como tal, fecho o dia,

arrecado a mágoa

e aquieto-me.

Luis Melo
Enviado por Luis Melo em 06/06/2006
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