EU 4 - amanhado de naufrágios
_________________ EU (4)
Do nada ao quase nada,
do nulo ao ínfimo,
e, enfim, do átomo à coisa,
no ascendente de uma via
pelo curso do tempo.
De novo:
da vida ao vital,
do sentir ao ser
por ápices de movimento
que o universo inspira.
Entretanto,
e entre o tanto
que aqui se revolve,
a descoberta
de um querer novo
dentro da gente
e da vontade-frenesi
de um todo renovado,
Daí a respiração
reformular-se admirável;
daí o abrir de braços
para abarcar o céu.
Ah! Meu céu
de fora e de dentro
meu céu, meu desvelo
que eu festejo
de dentro para fora.
Se o questiono
ele entende
e no silêncio, responde.
Talvez só, porque
cai uma gota
no meu rosto de Outono
e eu pressinto
que vai chover.
Talvez porque
cai uma lágrima
de estrela incontinente.
E, sim!, vai chover!
Fica-me um pasmo
por uma migalha
líquida e declinada
só para ficar aqui,
comigo,
a fundir-se a mim,
a mascarar-se
de ser cristalino,
e, porque não?,
para me agradar.
Fecho os braços
a envolver tudo
o que me é,
ainda que só no enlace
a um par de ombros
(mal) amanhado de naufrágios.
Suspiro o sentir perene
da tormenta
no meu deserto
pela razão avassaladora
de querer essa chuva
a poisar em mim
e o céu num pranto
de lágrimas consteladas.
Tudo isto à conta
de ainda não saber forjar
a verdade que me falta
no imenso desencontro
com o nada e o nulo;
...de não saber
inventar a raiva
do intenso desencanto
com o quase nada
e o ínfimo do que abarco.
Como tal, fecho o dia,
arrecado a mágoa
e aquieto-me.